quinta-feira, 27 de maio de 2010

Concerto | Grizzly Bear: Coros celestiais no Coliseu

“Olá, boa noite! Obrigado!”. Foi com estas simples e tímidas palavras em português que Ed Droste se dirigiu ao público presente no Coliseu passavam poucos minutos das dez da noite. O começo de um concerto a todos os níveis memorável, não só pelo facto de se tratar da estreia da banda em palcos lusos mas também pelo elevado grau de expectativa de todos quantos aguardavam ansiosamente por escutá-los ao vivo. Revelando uma boa disposição desarmante e descomprometida ao explicar que esta primeira visita a Portugal fora de três dias e que adoraram tudo o que viram, Droste ainda anunciou em primeira mão que a banda irá regressar ao nosso país daqui a menos de dois meses para tocar no Festival Superbock Super Rock. Impossível pedir melhor introdução! Com um sorriso nos lábios e por entre aplausos, o alinhamento teve início com os temas “Southern Point” e “Cheerleader” que abrem o último disco “Veckatimest”, lançado em Janeiro de 2009. O dispositivo cénico usado no espectáculo é simples e eficaz com todos os elementos da banda colocados à frente do palco, ao lado uns dos outros. São cinco estruturas que se assemelham a mastros de barco dos quais pendem fios eléctricos de diferentes comprimentos ligados a lâmpadas (colocadas dentro de frascos de vidro), à laia de velas rasgadas. Os efeitos de luz reflectem-se com cores diferentes em cada mastro e as pequenas lâmpadas acendiam e apagavam quais estrelas a brilhar no firmamento. O concerto prossegue e ao quarto tema escutamos “The Knife”, talvez o mais belo tema do ano de 2006, canção do álbum “Yellow House” para os mais atentos. As roupagens que vestem as canções ganham mais corpo, mais energia, percebe-se que a rodagem ao vivo lhes dá uma respiração diferente, ainda mais confiante e eficaz. Em certos momentos receia-se que o maior músculo das guitarras abafe as canções mas estas transbordam de grandiosidade.

As magníficas e invulgares harmonias vocais são o centro das composições e desenrolam-se sucessivamente perante os nossos ouvidos maravilhados sem recorrer a samples, loops ou a sons gravados e atingem a audiência com uma força plena de beleza e atracção. Ao longo das várias canções raros são os momentos em que escutamos apenas uma voz, somos quase hipnotizados pelo cariz majestoso das canções e pelo intrincado de sons que sai das gargantas dos quatro músicos. Christopher Bear canta tão bem como toca o seu kit de bateria (onde não falta o xilofone) e Chris Taylor desmultiplica-se numa infinidade de sons criados com o baixo e com instrumentos de sopro (clarinete, saxofone baixo e flauta transversal) numa rede de texturas notável. Daniel Rossen livrou-se da camisa a meio do concerto e ataca a guitarra ora com delicadeza, ora com fervor. A sétima canção da noite é a magnífica cascata de vozes de “Colorado”, o público rejubila e delicia-se uma vez mais. De seguida Rossen arrepia na interpretação do lindíssimo tema “Deep Blue Sea”, lá para o final da canção há até o assobio afinado. A sequência do concerto prossegue com os temas “Ready, Able”, “I Live With You” e a incrível “Foreground”. “While You Wait For The Others” coloca o povo a cantar, tal como já havia acontecido antes com “Two Weeks”, numa noite em que as cadeiras ocuparam o lugar da plateia do Coliseu. A dada altura é o próprio Droste que pede para as pessoas se levantarem e dançarem ao som da banda. Uns quantos fãs ferrenhos permaneceram sempre de pé no corredor central, o resto da audiência ia alternando entre estar de pé nas músicas mais dinâmicas e estar sentado contemplando os temas mais calmos.

A noite era de festa e o público bateu palmas ao ritmo da música, gritou e aplaudiu cada tema como se fosse o último. Assim, tal como sucedeu com “Fix It” que pertence ao primeiro longa duração “Horn of Plenty” e que Droste confessou há muito não tocarem ao vivo, a banda presenteou a audiência com novo momento verdadeiramente especial no encore onde naturalmente houve lugar a escutar “All We Ask”, tema final do concerto apenas com guitarra acústica e acompanhamento rítmico feito com os pés por todo o Coliseu de forma espontânea e certeira, fazendo sorrir imenso toda a banda, especialmente o baixista e produtor Chris Taylor e Ed Droste, juntos num mesmo microfone cantando os coros em falsete. Foi uma hora e meia de intensas emoções e pode dizer-se que superaram as grandes expectativas neles depositadas, levaram o barco a bom porto, elevaram-no aos céus, a ponto de desaparecer por entre as estrelas coruscantes do cosmos... Concerto épico, grandioso e sublime como só os melhores conseguem fazer e que certamente ficará gravado na memória de muitos.

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