quarta-feira, 20 de abril de 2011

Disco | Kode9 & The Spaceape - Black Sun (Hyperdub 2011)




















Foi lançado há poucos dias o segundo álbum de Kode9 & The Spaceape de seu nome Black Sun. Decorridos cinco anos sobre o lançamento do pioneiro manifesto que foi o disco Memories of The Future e igualmente passados cinco/seis anos sobre o apogeu do dubstep (devidamente celebrado em Lisboa em 2006 no primeiro Festival Roots & Routes num então recém-inaugurado Music Box, precisamente com concertos fabulosos de Kode9 & The Spaceape mas também de Various Production e Boxcutter), muita coisa mudou. Nesse ano de afirmação da editora Hyperdub de Steve Goodman (aka Kode9) saíram não só o disco do próprio, como o magnífico disco de estreia de Burial, verdadeiras revoluções sonoras no panorama musical e justamente considerados dos melhores álbuns de 2006. Depois disso o dubstep sofreu imensas transformações e cambiantes até se chegar ao momento actual, o chamado pós-dubstep. O novo disco reflecte estas mudanças e espraia-se na direcção de um novo rumo que ainda não se sabe qual é exactamente. A actualmente designada por bass music (que engloba todos os estilos que partem dos sons graves e sub-graves do seus baixos como motor rítmico) é uma míriade de variações que vão desde as vocalizações soul de um James Blake, Katy B ou  Jamie Woon até ao experimentalismo de um Joy Orbison, Joker, Ikonika ou Zomby, passando por Rusko, Mount Kimbie, Magnetic Man ou Darkstar.

Algumas destas alterações ocorridas são vertidas para Black Sun mas usando sempre como fio condutor a criação de música desinquietante, intrincada e estimulante. O álbum faz-se do contraste contruído através da tensão da propulsão rítmica e o uso de sintetizadores mais melodiosos, vagueia-se entre o confronto das batidas cruas e despidas e a maior variação de tonalidades das partes instrumentais. A voz de Spaceape aparece aqui mais clara e menos envolta em filtros, o que lhe dá mais corpo e a mesma presença de severo poeta spoken-word. A influência jamaicana do reggae e do dub continuam bem evidentes e sempre envoltas em referências literárias e fílmicas (há alusões ao cinema de Kurosawa e à escrita de Philip K. Dick) e por exemplo, a disposição das letras na própria capa do disco remete-nos para caracteres japoneses e um certo imaginário de gravura asiática.

A ideia de música futurista, sofisticada e de vinco muito pessoal continua bem presente mas exerce-se de forma menos fria, sufocante e digital que no primeiro álbum. Existe uma maior luminosidade e por vezes uma tendência para as atmosferas cósmicas com a voz feminina de Cha Cha a dar valiosas contribuiçoes. No fim do registo há ainda tempo para uma boa colaboração com o produtor Flying Lotus de Los Angeles no tema "Kryon". Por tudo isto, estamos perante um excelente regresso ao activo da dupla Kode9 & The Spaceape.

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