sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Disco - Novo lançamento | Radiohead - The King of Limbs (XL 2011)




















Com apenas três escutas consecutivas do disco escrevo este comentário crítico ao sempre muito aguardado novo álbum dos Radiohead, eles que criaram essas obras-primas que dão pelo nome "OK Computer" e "Kid A" e que são senhores de uma carreira ímpar e de um ousado percurso musical.

O oitavo disco dos Radiohead é um álbum curto e conciso nos seus 36,13 minutos e 8 faixas de duração e possui um som bastante soturno e electrónico ainda que por vezes seja muito melódico. Nesse sentido é muito a quintessência da própria banda, todos os tiques e ambientes familiares (a tensão entre o sintético e o orgânico, entre o sinistro e belo, entre o tenso e o meditativo, entre o emocional e o cerebral) estão lá mas como que respiram de forma diferente dada a envolvência em muitas camadas de sons, texturas e percussões. Sente-se que Thom Yorke absorveu a inspiração de muitos temas de dubstep e se apropriou deles com todo o grupo. Não deixa de ser curioso que há bem pouco tempo tenha saído um disco com o mesmo tipo de vibração mas, lá está, construído igualmente de forma pessoal e intransmissível, refiro-me ao recente álbum de estreia de James Blake. Assim , reconhecemos imediatamente estas canções como sendo Radiohead mas apontando cada uma em várias direcções, dir-se-ia uma espécie de fusão a um só tempo de "In Rainbows", "Amnesiac" e "The Eraser". Thom Yorke canta mais solto em alguns temas e as faixas têm em média 4/5 minutos. Aparenta ser um disco bastante descarnado e simples mas possui inúmeras camadas de samples, loops e efeitos e há até orquestrações de Jonny Greenwood (que de momento tem em mãos a execução da banda sonora do próximo filme onde entra Tilda Swinton - "We Need to Talk About Kevin" da realizadora Lynne Ramsay). Pode dizer-se que as canções de tendência mais melódica do disco são "Little By Little", Lotus Flower" e "Giving Up The Ghost" e por contraste a que mais se afasta do som anterior da banda será "Feral", tema quase um puro momento de dubstep. Para fazer uma escuta e apreciação mais atenta de cada canção, aqui fica o alinhamento, faixa a faixa.

1. Bloom: entrada em loop de piano, possui um ritmo quase tribal e fragmentado, um baixo funky e a voz de Thom Yorke arrastada e com eco canta "Open your mouth wide, a universal sigh", coros de vozes, pequenos apontamentos de orquestração com cordas e sopros

2. Morning Mr.Magpie: esta música tem um ritmo mais acelarado, batidas e estrutura elíptica, ritmo marcado pela respiração do vocalista, guitarras em stacato e uma sirene, feedback e pássaros a chilrear no final; este tema tal como "Lotus Flower" e "Giving Up The Gost", já eram conhecidos por terem sido tocados não raras vezes em concerto e muito embora surjam aqui com outras roupagens, estas não são muito distantes do que a banda havia testado em palco

3. Little By Little: tema com mais guitarras de todo o disco, ritmo quase tropical-swingante, riff de guitarras roucas sempre contínuo e em espiral, pequenos solos de guitarra a meio da canção, com samples, beats e pratos em camadas como se de uma música de dança se tratasse, faz uso mais explícito de um refrão - "ittle by little, by hook or by crook", melodia trauteável

4. Feral: faixa quase totalmente instrumental, mais próxima do som de "The Eraser", sons dubstep, vozes imperceptíveis e espectrais como em Burial, ritmo sincopado, efeitos de dub e uso de subgraves

5. Lotus Flower: é o single de avanço de "The King of Limbs" com direito a videoclip como mostrámos anteriormente, tem uma entrada em fade in, o baixo tem um ritmo trepidante e sinuoso que conduz toda a canção, bela melodia vocal em falsetto, é o centro do disco, Yorke canta "Slowly we unfurl as lotus flowers"

6. Codex: "balada" com piano e voz, interlúdio de um suave trompete a dar um sabor jazzy a fazer lembrar Amnesiac, só um drumbeat a acompanhar e pouco mais, provavelmente a canção mais despida de arranjos de todo o disco, a letra só começa após o meio da canção, faz lembrar o tema Pyramid Song ou Videotape, da letra consta a linha "Jump off the endinto a clear lake"

7. Given Up The Ghost: começa e acaba com o som de pássaros a cantar, é a faixa com guitarra acústica do álbum, tem travo folk-country, há orquestrações sumptuosas mas simples de Jonny Greenwood, a frase "In your arms, don't hurt me" é usada como um mantra

8. Separator - belíssima faixa com vozes etéreas, baixo de pulsão kraut, guitarras flutuantes com reverb, delays e ecos, bateria circa Kid A/Amnesiac, Thom canta "Wake me up, wake me up" como se desejasse acordar de um sonho, tema que fecha muito bem o álbum; já havia sido tocada ao vivo com o nome "Mouse Dog Bird" no concerto Green Party Benefit de Yorke decorrido no ano passado

Talvez se esperasse que a ousadia do grupo fosse mais longe mas o atingir da maturidade plena da banda é porventura algo contrário a este desejo. O produtor foi novamente Nigel Godrich, praticamente um sexto elemento do conjunto.  Este álbum possui uma certa crueza e tem bastante menos variações e cores do que o anterior "In Rainbows", neste particular "The King of Limbs" parece até bastante monocromático e não aparenta ser (às primeiras audições) uma sequência directa do seu antecessor e isso mesmo surpreende. Num impacto inicial pode até parecer um disco de indefinição do qual as guitarras quase desapareceram mas é um álbum rico em texturas electrónicas e que parece apontar para o caminho futuro. Vai ser um disco que divide opiniões pois não apresenta grandes novidades (inclusive já tínhamos escutado quatro das oito canções) e a sua curta duração sabe mesmo a pouco. Apesar de tudo isso e apesar de os Radiohead não se terem reinventado, escreveram mais um belo punhado de excelentes canções (principalmente "Little By Little," "Lotus Flower "e "Separator") e não vem mal nenhum ao Mundo por isso, bem pelo contrário!

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